Em ENTREVISTA COM O VAMPIRO, o personagem principal se chama Louis, o vampiro do título, que compartilha suas memórias com um repórter. Suas amarguras se iniciam com a morte acidental do irmão, e continuam quando Lestat, um outro vampiro, o transforma nessa criatura da noite sedenta de sangue. Apesar de Louis ser o narrador da história, quem realmente chama a atenção é Lestat. Sua presença é forte em todos os capítulos em que aparece, um personagem muito bem construído e cheio de camadas, que esse primeiro livro apenas deixa vislumbrar.

Agora, em O VAMPIRO LESTAT, o leitor tem a chance de conhecer todas essas camadas, desde o nascimento do personagem, até o ponto logo após Louis concluir sua narrativa. Mais de 200 anos de uma história cheia de descobertas e de mortes. Começando na Paris do século XVIII, quando Lestat abandona a família e ingressa em uma trupe de atores de teatro. Em uma das apresentações, Lestat é visto por Magnus, um dos mais velhos vampiros de todos, que se encanta com o jovem e o transforma. Em troca da vida eterna e de uma imensa fortuna, Magnus pede apenas a paz eterna, ou seja, que Lestat o mate.

Após conceder o destino de Magnus, Lestat descobre que existem muitos outros como ele, e começa uma busca incansável para encontrar a origem dos vampiros. Nessa jornada, ele transforma a mãe em vampiro, quando ela está à beira da morte, devido a uma doença. Eles encontram Armand, um outro vampiro muito antigo, e dão origem ao Teatro dos Vampiros. Armand e o Teatro apareceram no livro anterior, e o Teatro é palco de um dos mais dramáticos e sangrentos trechos do livro. Lestat chega até o Egito, onde finalmente encontra parte das respostas da origem dessas criaturas, além de conhecer um casal que podem ser os primeiros.

A história começa no século XX, retrocede com as memórias de Lestat, e no final continua no presente. Nesse ponto, Lestat fica revoltado com a publicação do livro ENTREVISTA COM O VAMPIRO (sim, o segundo livro considera que a história de Louis foi publicada) e decide tornar públicas suas próprias memórias. Mais do que isso, ele se apaixona pelo rock e decide formar uma banda, que se torna muito famosa e corre pelo mundo. Só que toda essa exposição, levanta a revolta de outros vampiros.

Lestat realmente é um personagem bastante complexo. Nada nele é simples de compreender. Ele é nitidamente bissexual, mas também sobre de um profundo Complexo de Édipo. Seus pensamentos sobre a mãe, navegam entre a admiração, até à luxúria, com descrições provocativas e sensuais de sua aparência e físico. Não fica claro na história se essa paixão é consumada, mas também não fica claro se não é. Ele se apaixona por Louis, por Armand, num vai e vem de intensos sentimentos, sempre descritos detalhadamente pela autora.

Aliás, Anne Rice não se contém na forma como constrói os vampiros em criaturas sem qualquer moralidade ou conceitos de gênero. Eles são criaturas além do mundo humano, e por isso não se prendem a barreiras criadas pelos humanos, principalmente com relação a propriedade e relacionamentos. Se eles sentem desejo, seja por quem for, eles se entregam a esse sentimento com total dedicação e desprendimento. Os vampiros de Anne Rice não podem ser julgados por esse comportamento, porque nós, como humanos, dificilmente conseguiríamos compreender a forma como eles se veem e veem o mundo. Isso fica claro, muito bem explicado, em cada descrição que a autora faz de seus pensamentos e ações.

O VAMPIRO LESTAT consegue ser tão bom quanto o primeiro livro, e vai além na questão de liberdade de sentimentos e de ações sem qualquer moralidade. Lestat faz jus à fama que ganhou, indo de alguém cheio de paixão, até um outro alguém sem qualquer compaixão, capaz de atitudes que podem ser consideradas cruéis, mas apenas por quem é humano. Vale a leitura de cada uma das páginas, e é uma leitura obrigatória para qualquer fã dessas criaturas.


AUTORA: Anne RICE
TRADUÇÃO: Reinaldo GUARANY
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 576


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