Lola Nolan não acredita em moda… ela acredita em trajes. Quanto mais expressiva for a roupa ― mais brilhante, mais divertida, mais selvagem ― melhor. Mas apesar de o estilo de Lola ser ultrajante, ela é uma filha e amiga dedicada com grandes planos para o futuro. E tudo está muito perfeito (até mesmo com seu namorado roqueiro gostoso) até os gêmeos Bell, Calliope e Cricket, voltarem ao seu bairro. Quando Cricket ― um inventor habilidoso ― sai da sombra de sua irmã gêmea e volta para a vida de Lola, ela finalmente precisa conciliar uma vida de sentimentos pelo garoto da porta ao lado.

Eu nunca havia lido nenhum livro de Stephanie Perkins, por isso não sabia bem o que esperar da narrativa. Mas fiquei surpreso logo no início, quando a autora descreve a cena em que Lola está dançando no quarto, de olhos fechados, ao som de uma música da banda de Max, seu namorado, e Cricket, sua antiga paixão que a abandonou dois anos atrás sem qualquer explicação, invade o quarto e fica de frente para ela. Foi uma forma criativa e emocionante de formar o triangulo amoroso.

Outro ponto que me surpreendeu foi como as roupas de Lola fazem parte da história. É um complemento do personagem, uma forma de demonstrar a personalidade e a mudança de humor de Lola. Ela usa as cores, os adereços, os sapatos, enfim, tudo o que veste como forma de confrontar a vida, os desafetos, os afetos, a mãe, os pais… é seu grito que avisa a quem ela é e o que está sentindo. Muito bom!

Formado o triangulo amoroso, é interessante acompanhar o confronto interno de Lola para rejeitar e se convencer de que não sente o que sente por Cricket. A mágoa por ter sido abandonada, sem explicação, por seu primeiro amor, só não é maior do que o sentimento que pensou ter afogado no tempo. E quando, acidentalmente, ela coloca Max e Cricket frente a frente, sem este último saber que ela estava namorando, é compreensível o gosto de vingança que Lola sente momentaneamente, e logo depois a descoberta que essa mesma vingança não representa nada e nem a consola.

Lola é filha adotiva de Nathan e Andy, porque a mãe biológica dela, Norah, era uma moradora de rua até alguns anos atrás e vivia bêbada ou drogada. Exatamente por serem dois homens (mesmo que homossexuais), eles não aprovam o namoro de Lola com Max, porque este tem 22 anos, 5 anos mais velho do que Lola. E Nathan e Andy sabem perfeitamente como homens se comportam quando estão com meninas lindas como a filha deles. Ainda mais ele tendo uma banda e tocando em bares noturnos.

Lola também precisa lidar com Calliope, a irmã possessiva de Cricket. Ela não gosta de repartir o irmão com ninguém, ainda mais com alguém que ela sabe que poderá ferir o coração dele, como realmente acontece e como Lola reconhece lá para o fim do livro. No início achei Calliope extremamente chata, mas aos poucos fui compreendendo seus motivos e até concordando com algumas de suas atitudes.

Temos outros personagens, como Lindsey, a melhor amiga de Lola, e Anna e seu namorado Étienne St. Clair. Estes dois últimos são personagens de outro livro da autora, que eu não li, mas que fiquei sabendo tratar-se de um romance bem parecido.

Todos eles são interessantes, carismáticos e tem sua importância no desenrolar dos acontecimentos, mas eu quero mesmo me debruçar sobre o trio central. Então, deixa eu começar por Max. Lola não merece o Max. Ela usa o cara como um troféu que pode exibir, uma massagem no ego, e idealiza uma relação com ele que ela mesma não acredita e não quer. Ele é a fantasia de que ela será famosa, que terá uma vida glamorosa do seu jeito, como se junto com Max pudesse ser uma boneca admirada e invejada.

Quando ela pensa no que Max sente, é apenas quando tenta esconder o que ela própria sente por Cricket. Responde aos questionamentos dele com mentiras, atuando como se fosse absurdo o ciúme dele, quando ele tem toda a razão para tê-lo, e ainda se finge de indignada pelos questionamentos. Lola não mente apenas para Max. Ela insiste em mentir para ela mesma ao dizer que só deseja ser amiga de Cricket. Ela arruma desculpas para essas mentiras acusando Max de ser ciumento, mesmo sendo ela a culpada desse ciúme. Ela sabe que está errada, sabe que está arrastando a paixão de Max, mas mesmo assim deixa. E sim, é uma paixão, porque ela nunca o amou. Amar está bem longe do que ela faz com ele. E é justo quando ele retorna de uma viagem, depois de uma briga com Lola, e deixa claro que ela nunca foi uma mulher de verdade e sim uma garotinha que não se conhece e que o traiu.

Compreendo quando alguém se sente dividido em duas paixões. No caso de Lola, considero que ela age de forma errada,uma vez que ela sabe a resposta e teima em brincar com os dois por capricho. Ela quer Max por ele ser popular, bonito, descolado, o cara que todos invejam, mesmo ele não gostando de seus pais, de seus amigos e até da forma como ela se veste, mas isso é o que ele é, e ela sabe disso desde o dia em que o conheceu. E Lola também quer Cricket, por ser seu amor, o cara que a faz ser quem realmente é, em quem pode confiar, de quem todos gostam, por acreditar e saber que será seu para sempre. Mas ela precisa abrir mão de um deles e não quer.

Cricket? Lola não merece Cricket! Tudo bem, ele nunca teve atitude de assumir o que sentia por ela. E quando conseguiu reunir coragem suficiente, foi embora sem dar explicações e deixou Lola sofrendo por não terem tido uma chance de demonstrarem o quanto um realmente gostava do outro. Dois anos se passaram, Lola tocou a vida, encontrou Max e aí Cricket volta e com ele todos os sentimentos que ela nunca conseguiu perder por ele. Desde a primeira vez que o revê, ela mente para si mesma dizendo que só quer ser sua amiga, mas não consegue evitar de dar um passo atrás do outro para ficarem juntos. Só que ela não larga Max. Mesmo sabendo o quanto Cricket sofre quando vê os dois juntos, ela não faz nenhum esforço para minimizar a situação. Não sei tudo sobre amor, mas sei que nunca poderia deixar a pessoa que amo sofrer de ciúme pelo que eu faço, ainda mais sabendo que ela também me ama. E ainda a ficar provocando sem terminar com o namorado, como ela faz com Cricket.

Ao fim do livro não sei o que pensar de Lola, nem da escolha que ela faz com relação a Max e Cricket. Ela é aquela garota mimada que não é má de coração, apenas não sabe que decisões tomar e nem como consertar as coisas de errado que fez com os dois caras de sua vida. Mas ela amadurece, reconhece seus erros e tenta consertar a maioria. Não é um consolo, porque dor de coração não se cura de maneira fácil. Interessante que a autora deixa subtendido que o prazer verdadeiro do sexo está atrelado ao amor verdadeiro e não à paixão ou desejo. Lola sente isso na relação com Max, mas não reconhece com medo de perdê-lo.

LOLA E O GAROTO DA CASA AO LADO não é apenas sobre um triangulo amoroso, mas também sobre segundas chances: é a segunda chance de Norah, a mãe de Lola, se aproximar da filha; a segunda chance de Nathan e Andy incluírem Norah na família; a segunda chance de Calliope reconhecer o quanto rouba da vida do irmão e retomar a amizade de Lola; a segunda chance de Cricket para desfazer o mal-entendido de dois anos atrás e reconquistar a garota que ama; a segunda chance de Lola ser feliz ao lado do garoto que ocupa seu coração desde pequena.

E não é sempre que a vida nos dá uma segunda chance. Na verdade, talvez aconteça apenas nos livros… por isso é tão bom ler :>D


AUTORA: Stephanie PERKINS
TRADUÇÃO: Robson Falchetti PEIXOTO
EDITORA: Novo Conceito
PUBLICAÇÃO: 2016 (reedição)
PÁGINAS: 288


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