Um erro comum é pensar que você nunca leu Lovecraft. Acredite, você pode nunca ter aberto um conto do americano e se aventurado naquelas páginas, mas você, com toda certeza, leu ou assistiu algo inspirado nele e desbravou aquelas terras. Por exemplo, se você prestar atenção em IT, do nosso rei do terror Stephen King, é nítido a semelhança da Coisa com Chtuthlu, que é nomeado como A Coisa também em determinados momentos da narrativa. Isso sem falar em outros personagens de ambos os escritores que são parecidos, e de inúmeros autores, cinegrafistas e roteiristas que bebem na mesma fonte de inspiração.

No universo lovecraftiniano, os nossos maiores pesadelos se tornam reais. Deuses antigos já esquecidos, criaturas dos mais profundos cantos do inferno ou, até mesmo, seres de outros planetas são peças fundamentais nos mais pavorosos contos que o consagraram na nossa literatura e o tornaram referência.

Em BIBLIOTECA H. P. LOVECRAF – VOLUME 1, belíssima edição criada pela Companhia das Letras, conhecemos alguns contos famosos do escritor, como Dagon, Ar Frio, o popular O Chamado do Cthulhu, entre outros. Aviso importante, não pegue Lovecraft para ler e pense que vai ser uma leitura corrida, para uma noite. Cada conto precisa ser lido, apreciado e digerido. São leituras densas e cheias de nuances.

Importante também, não pegue Lovecraft para ler como eu peguei. Por ter ouvido várias vezes de amigos, talvez não tão amigos assim ou desconhecidos, que você é menos por não conhecer um determinado autor (ou menos fã do gênero). Lovecraft é alguém para ser lido no tempo específico de cada leitor. Não é uma leitura fácil. Pessoas ansiosas que o digam. Esse aviso de agora é especialmente para vocês.

Diferentemente de terror psicológico, aquela coisa de “eu não disse, mas tá aí“, em Lovecraft, os monstros estão lá mesmo. Não existem entrelinhas, a realidade é como é. Um ponto do escritor que me incomodou profundamente, justamente pelo meu excesso de ansiedade, é a precisão de detalhes. Para construir o terror e toda a agonia da história, são utilizados parágrafos de uma página e muita descrição, coisa que eu, enquanto leitora, tenho muita dificuldade em lidar, posto que atrasa meu ritmo e me deixa afobada (por ausência de palavra melhor).

A minha experiência de leitura foi semelhante a quando tentamos ver um filme clássico. Você reconhece o valor, porém não condiz com o seu perfil (ao menos não com o meu). Eram tempos diferentes, com valorização de outras coisas. São histórias mais lentas, em que cada detalhe importa e faz toda diferença.

Enquanto leitora, reconheço a importância e a legitimidade de Lovecraft para o terror atual. Embora eu veja uma semelhança um pouco incomoda em todos os contos do livro (o esqueleto da história/jornada do herói é desenvolvida da mesma forma, ao meu ver), vejo também o talento ímpar do autor em criar um universo próprio, extremamente completo.

Aos que se interessaram e não vêem detalhismo como incômodo, o meu conselho é: nunca, jamais, em hipótese alguma, comecem pelo Chamado de Cthulhu. É tipo como começar pelo Iluminado, do King, vai ser um tipo de conteúdo que talvez, você ainda não esteja pronto para conhecer. Quanto aos outros contos, outra dica importante, leia aos poucos. As melhores experiências surgem da paciência.


AUTOR: H. P. LOVECRAFT
TRADUÇÃO: Guilherme BRAGA
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 447


COMPRAR: Amazon