O romance de verão entre Elio, um jovem italiano, com Oliver, um americano mais velho, encantou a todos no livro/filme ME CHAME PELO SEU NOME. No final, o que resta é um gostinho de quero mais e, atendendo esse desejo dos leitores, o autor nos apresenta ME ENCONTRE, continuação que irá nos mostrar o que aconteceu com esses personagens. Um aviso: esta resenha contém spoilers do final do primeiro livro.

A narrativa se divide em três arcos: o maior, segue Samuel, o pai de Elio, que agora é um homem divorciado e que está indo se encontrar com o filho. Os anos se passaram, Elio agora é um talentoso músico numa orquestra de uma grande cidade. E essa ida até a cidade, reserva para Samuel tudo o que ele poderia querer. No trem, ele conhece Miranda, uma mulher jovem com um cachorro, e dentre a conversa agradável, surge um sentimento. Essa interação entre Samuel e Miranda absorve uma grande parte do livro, e esse momentos são carregados de intensidade. É uma conversa que caminha sobre tudo e nunca fica cansativa, ver o sentimento brotar realmente do nada, sem dúvidas um dos melhores momentos do livro.

A segunda parte tem como protagonista o próprio Elio, agora um homem e que ainda permanece cheio de dúvidas e questionamentos. Seu arco se desenvolve quando conhece um homem mais velho e maduro, e também desse papo, surge um relacionamento que parece perfeito. Com um gostando realmente de tudo do outro e tendo bastantes coisas em comum. Aqui também é onde temos um pouco de uma espécie de mistério a ser resolvido. Já que Michael presenteia Elio com uma partitura antiga que está na sua família há muitos anos. E juntos eles examinam essa composição com o objetivo de desvendar seus segredos, para que Michael conheça mais do passado de seu próprio pai, o antigo dono dessa partitura.

A parte final é a menor e deixa para Oliver o destaque. Agora um professor competente, casado e com filhos. Mas no seu interno, ele ainda preserva os momentos que viveu com Elio num verão na Itália há vinte anos atrás. Ele também tem dificuldades de resolver suas dúvidas perante a seus desejos carnais e nada parece fazer sentido no seu coração. O que será que está faltando?

A maior proeza da narrativa é a capacidade de avançar entre esses arcos de maneira muito natural. Eles não acontecem ao mesmo tempo, e o leitor não volta para os arcos anteriores, é dentro desses novos que a gente descobre o que aconteceu e qual foi o destino dos outros personagens. Chega até a ser surpreendente o tamanho do avanço da narrativa e tudo isso é descrito apenas em poucas frases, não sendo necessário nenhuma grande explicação.

Sobre a trama em si, pode-se argumentar que ela é um pouco repetitiva, pois o arco envolvendo Samuel e Elio é praticamente a mesma coisa, porém em lugares e com pessoas diferentes. Fica evidente um pequeno desgaste na leitura, que depois de um tempo, parece não sair do lugar. O que faz as palavras serem importantes é a quantidade de sentimento e intimidade presente nas páginas. Os personagens se amam e demostram isso com uma bonita delicadeza, nada é brusco ou apelativo, é como tocar um tecido de seda suave, você sente algo incrível, sem grandes alardes.

O comentário mais duro eu deixo para o ato final que foi desenvolvido de maneira muito apressada e utópica. Toda a sensibilidade e calma presente nas outras duzentas e quarenta páginas, são substituídas por uma rapidez desconfortável, onde o leitor não consegue aproveitar nada. E sobre os desfechos de cada personagem, os caminhos que o livro segue são bem questionáveis e chega a ser bem ilusório como as coisas se resolvem tão facilmente num estalar de dedos. Tinha tanta coisa em jogo, tanto a se fazer, mas no final, tudo isso desaparece do nada.

ME ENCONTRE lembra um pouco os filmes da “trilogia before”, daquele casal que ficava andando e conversando durante todo os três filmes. Existe nas palavras muitos sentimentos e uma intensidade muito palpável. Não sei se era um livro necessário, mas ele se torna algo agradável, não por reencontrarmos Elio e Oliver, e sim pelo destaque que Samuel, pai de Oliver, recebe aqui. Um bonito exemplo sobre recomeçar, sobre acreditar que as coisas ainda podem dar certo. Esse personagem teve uma participação tão pequena e especial no primeiro livro, mas aqui ele recebe a luz que merece, e só isso já enriquece esse universo de amor e sensibilidade.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: André ACIMAN
TRADUÇÃO: Alessandra ESTECHE
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 270


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