Da mesma forma que aconteceu em O HOMEM DE GIZ (resenha aqui), C. J. Tudor utiliza novamente uma ideia de Stephen King para construir sua história. Se no primeiro, era a pequena cidade do interior com um mistério que envolvia um assassinato, um homem misterioso e acontecimentos aparentemente inexplicáveis, com uma narrativa que começava no passado, quando os personagens eram jovens, e ia até o presente, com eles adultos, semelhante a IT A COISA, desta vez, em O QUE ACONTECEU COM ANNIE, a trama gira em torno de um local que traz os mortos de volta à vida, como em O CEMITÉRIO.
Entretanto, antes de sair por aí dizendo que ela copia Stephen King, é necessário estabelecer o que é uma cópia. Em termos legais, uma ideia não tem direitos autorais: “É fundamental precisar que o Direito Autoral não protege as ideias de forma isolada, mas sim e tão-somente a forma de expressão da obra intelectual; isto que dizer: a forma de um trabalho literário ou científico é o texto escrito; da obra oral, a palavra; da obra musical, o som; e da obra de arte figurativa, o desenho, a cor e o volume, etc. Assim, se duas obras, sob formas de expressão diversas, contêm a mesma idéia, segue-se que nenhuma poderá ser havida como plágio da outra”. Sendo assim, embora O HOMEM DE GIZ e O QUE ACONTECEU COM ANNIE contenham ideias utilizadas por Stephen King, todo o conteúdo é original e diferente, portanto, não é uma cópia. Se você ler os dois livros de King e ler os dois de Tudor, vai constatar que tudo o que acontece, os personagens, os locais e até mesmo o final, são diferentes, bem diferentes.
Joe Thorne recebe um e-mail de alguém anônimo, cujo conteúdo diz apenas: “Sei o que aconteceu com sua irmã. Está acontecendo de novo”. Ele resolve voltar para sua cidade natal, de onde saiu há 25 anos, e ingressa como professor de inglês no colégio onde estudou para ter uma maior facilidade na sua investigação, além de reencontrar antigas amizades e desafetos. E seu principal desafeto é com Stephen Hurst, agora um homem rico e poderoso na cidade, mas que na adolescência era o líder da turma de bullying do colégio, da qual o próprio Joe participava, mas apenas porque era apaixonado por Marie, a namorada de Hurst.
Assim que Joe reencontra Hurst, é ameaçado para ir embora e esquecer o passado. Só que as ameaças não vêm apenas dessa direção. Joe era um viciado em jogos, principalmente cartas, e deve dinheiro a um homem apelidado de Gordo, que ninguém conhece, menos Glória, uma capanga que não pensa duas vezes para ferir ou matar quem deve dinheiro. Joe pensa então em chantagear Hurst sobre algo que ele fez no passado, que está ligado ao que aconteceu com Annie e com a morte de outro rapaz que fazia parte da turma, e conseguir o dinheiro para pagar o Gordo. Mas Joe descobre que Marie se casou com Hurst, que está doente, com um câncer terminal, sem qualquer esperança de cura, e desconfia que Hurst pretende levar Marie no mesmo local que modificou o comportamento de Annie e, posteriormente, provocou o acidente de carro e sua morte. Ele não pode deixar isso acontecer.
Joe é um personagem ambíguo: ele é o herói da história, mas nem por isso deixa de ter um lado aproveitador, que pensa no certo, mas com algum proveito prático. Na adolescência, ele já apresentava essa personalidade, mas em menor grau. Quando adulto, ele quer penalizar os culpados pelo que aconteceu no passado, principalmente com Annie, mas ele também quer usar essa vingança para conseguir algum benefício financeiro para poder quitar suas dívidas.
Hurst é o vilão da história, e isso fica certo para o leitor pelas coisas que ele faz na adolescência, e também pelas coisas que ele faz no presente. Entretanto, aos poucos, mais para o final do livro, quando as revelações aparecem, descobrimos que ele pode não ser assim tão mau, que algumas tragédias podem não ter sido culpa dele, inclusive o que aconteceu com Annie, que ele pode ter modificado sua personalidade, aprendido com seus erros, que nem tudo é culpa dele. Ou seja, ambos os personagens, Joe e Hurst, são complexos, possuem várias camadas, são muito bem construídos com o objetivo de surpreender o leitor.
Parte da surpresa de O QUE ACONTECEU COM ANNIE deveria residir exatamente sobre o mistério do que aconteceu antes da morte de Annie, mas essa surpresa não existe, uma vez que qualquer um que já tenha lido algo sobre o livro de King, sabe o que aconteceu com ela e porque seu comportamento mudou. Entretanto, por esse motivo, a autora cria outras muitas surpresas ligadas a Joe, Hurst, Glória, o Gordo e, principalmente, Marie. Tanto que o foco principal do livro não é o tal local que muda as pessoas, mas tudo o que aconteceu antes da turma de adolescentes encontrar esse local, e tudo o que aconteceu nas décadas seguintes.
Para criar esse interesse paralelo, Tudor desenvolve várias pequenas histórias que correm em paralelo e que se interligam através dos personagens. Uma história de vingança, uma história policial, uma história sobrenatural e uma história de ambição. Cada personagem é dona de uma dessas histórias, enquanto Joe é a peça central que as une em uma única. E a verdadeira surpresa, a reviravolta do final do livro, não fica sendo o local misterioso que eles descobrem, mas as máscaras que caem de alguns personagens e as revelações do que eles fazem sobre o passado e sobre o que eles fazem no presente. Quem o leitor achava que era bom, descobre que era mau; e vice-versa.
Essa criatividade em utilizar uma ideia consagrada e a transformar em algo totalmente novo e diferente, é o que torna deliciosa a leitura dos livros de Tudor. Principalmente para quem já leu os livros com as ideias originais. Quando li O HOMEM DE GIZ, esperava a todo instante algo que tivesse acontecido em IT A COISA, mas não encontrava e era surpreendido por um acontecimento imprevisto ou uma reviravolta no enredo. A mesma coisa se passou comigo durante a leitura de O QUE ACONTECEU COM ANNIE. Eu já sabia o que o local misterioso fazia com as pessoas, porque eu li O CEMITÉRIO, então fiquei esperando que certos acontecimentos se repetissem, mas nessa espera, outras coisas novas me pegaram de surpresa, e terminei a leitura com a sensação de ter sido perfeitamente enganado e surpreendido. E isso é muito bom, quando se termina um livro.
O QUE ACONTECEU COM ANNIE mistura o paranormal com um thriller policial através de vários personagens complexos, cheios de culpa, de ambição, imperfeitos com todo ser humano. Uma leitura que envolve o leitor através de muitas surpresas e reviravoltas, principalmente em relação à índole de cada personagem.
A edição está muito caprichada, capa dura, páginas de lombada preta, que também saiu na caixa dos Intrínsecos de três meses atrás. E é essa edição dos Intrínsecos, também em capa dura, papel de alta qualidade, marcador de tecido, que iremos sortear, além de adicionar um botom da editora e um cartão postal temático com a capa comercial do livro. E como você faz para poder concorrer a esse exemplar? Basta seguir as regras abaixo!
REGRAS
UM: Preencher o formulário de participaçăo, sendo que existem entradas obrigatórias, que valem um ponto cada uma, entradas opcionais, que valem cinco pontos cada uma, e uma entrada diária opcional, que vale cinco pontos a cada dia que voce a fizer. Quantos mais pontos voce somar, mais chances tem de ser sorteado;
DOIS: Deixar um comentário neste post;
TRĘS: O ganhador precisa ter endereço no Brasil para receber o premio;
QUATRO: Após 20/07/2019, será feito o sorteio pelo formulário de participaçao;
CINCO: O premio será enviado em até 30 dias úteis, após divulgado o resultado. O blog nao se responsabiliza por extravios, danos ou roubos do premio enviado;
SEIS: O ganhador(a) terá 48 horas para responder ao e-mail de solicitaçao do endereço. Caso năo responda nesse prazo, será desclassificado(a) e um novo nome será sorteado;
SETE: O blog GRAMATURA ALTA se reserva o direito de dirimir questoes năo previstas nestas regras.
RESULTADO
Gisele Thais (@_giselethais)
AVALIAÇAO:
AUTORA: C.J. TUDOR nasceu em Salisbury e cresceu em Nottingham, Inglaterra, onde ainda mora com a família. Seu amor pela escrita, especialmente pelo estilo sombrio e macabro, surgiu logo cedo. Enquanto os colegas liam Judy Blume, ela devorava as obras de Stephen King e James Herbert. Ao longo dos anos, atuou em várias funções, como repórter, redatora, roteirista para rádio, apresentadora de televisão, dubladora, passeadora de cães e agora escritora. O Homem de Giz é seu romance de estreia.
TRADUÇAO: Flávia RÖSSLER
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 288
COMPRAR: Amazon
Olá Carl!
Depois de ler uma resenha sobre O Homem de Giz, eu já tinha despertado interesse em conhecer a escrita de Tudor, porém minha vontade de ler algo o autor só aumentou agora. O Que Aconteceu Com Annie impressiona pelos pequenos detalhes e pistas que são lançados para o leitor ao longo dos acontecimentos, e apesar da escrita fluída, é necessário ler com cuidado para não deixar passar nada batido. Essas inspirações nas obras de King realmente não podem ser consideradas cópias, e tenho certeza que a forma criativa e inteligente com a qual o autor constrói suas tramas é uma grande homenagem ao mestre do terror.
Beijos.
Não apenas homenagem, mas também tudo fica muito bom!
Amei a resenha, já tinha ouvido falar do homem de giz, agora quero ler os dois kkkkkkkk, acho muito legal quando autores brincam com a nossa mente e nos fazem achar uma coisa dos personagens e no fim nos surpreende.
Os dois são ótimos, vai adorar!
Li “O Homem de Giz” e fiquei apaixonado pela história, os personagens e todo o desenvolvimento da trama. Desde então soube que a autora tinha um grande talento nas mãos e podia ir longe, e o trabalho gráfico por parte da editora também não deixa a dever. Ansioso pelo o que a C.J. TUDOR tem a mais pra nos oferecer
Então leia este segundo livro também, achei melhor que o primeiro, e o primeiro já foi ótimo!
Olá Carl!
Eu não conheço a autora e nem li as obras de King mas não vejo mal em utilizar boas ideias e trabalha-las a sua maneira. Achei muito bacana as surpresas nessa trama, pois adoro o desafia de descobrir as reais intenções dos personagens, e aqui ninguém é o que parece. Fiquei curiosa sobre o REALMENTE que aconteceu com Annie e o que o local misterioso faz, isso é mencionado explicitamente na trama?
Beijos
Sim, é mencionado, explicado e demonstrado rsss Falar mais na resenha, ainda mais para quem não conhece a história de King, seria um enorme spoiler.
Em primeiro lugar #chocada que CJ é uma autorA. Como o gênero que escreve não é minha primeira escolha não havia percebido. Achei ótimo!
Acredito que no mundo literário é comum essa semelhança. Tiro pelo meu gênero literário preferido. A premissa, normalmente, é a mesma mas cada autora imprime sua marca. Dá a trama sua cara.
Quanto a O Que Aconteceu com Annie ora mim é a primeira vez que vejo um trhriller com essa pegada mais sobrenatural.
O fato do protagonista não ser o herói perfeito me chamou a atenção. Assim como perceber que o foco principal do mistério é como cada personagem reagiu ao desaparecimento da Annie
Como assim não sabia que era uma autora????
Mesmo sem conhecer o trabalho da autora, não há como negar que o nome dela tem se tornado figurinha fácil em muitos locais que indicam literatura de qualidade.
O Homem de Giz foi muito indicado na época do seu lançamento, por isso, quando este novo trabalho da autora foi lançado, já começaram os burburinhos.
Eu amo o gênero e não ligo muito com isso de “parecer” outra obra não, ainda mais quando lendo acima, ficou bem nítido que a história pode até lembrar os grandes trabalhos do Mestre King(que honra)mas que acabou se tornando um enredo totalmente diferente.
A capa é realmente lindíssima e com certeza, quero demais conferir!!!
Beijo
Que bom, confira mesmo!
Oii, tudo bem? Eu não tive uma experiência boa com “O homem de giz”, mas desde esse lançamento eu fiquei bem curiosa com a premissa da obra. Quero muito ler e espero gostar desta vez!!! Sua resenha ficou incrível e só aumentou a minha curiosidade.
Sério que não gostou de O Homem de Giz? Mas por quê???
Achei que era uma coisa e no final foi outra, eu estava com altas expectativas e fiquei decepcionada, mas acontece né, nem sempre uma obra irá agradar a todos.
Acontece kkkk
Olá! Se o primeiro livro já havia me fisgado esse então me conquistou de imediato, afinal traz personagens bem reais, onde o bem e o mal caminham juntos e não há ao certo e bem definido quem é o “mocinho” e quem é o “bandido” da história. Além disso, essa sensação de surpresa e literalmente ficar de queixo caído durante a leitura não tem preço, sem falar nessa edição tão primorosa, eita que é match atrás de match hein.
Então só falta você ler 🙂
Acho incrível quem consegue criar e consegue ler histórias no estilo do king, com esse suspense sobrenatural e investigativo. Parece muito vivo e as pessoas dizem que devoram, eu espero algum dia conseguir ler essas coisas mais fora do “mundo comum” kkkkkkkk ainda não me pegou, a não ser em HQ. Não sei, acho que minha mente não sabe lidar com a ação e a fantasia em palavras, mesmo eu lendo muito mesmo.
Então leia HQs do gênero, também é muito bom!
Estou curiosa pra saber O que aconteceu com Annie, e depois da resenha vou ler O homem de giz hoje mesmo! Dei de presente para minha filha, mas ainda não li.
Olá! Ainda não li O Homem de Giz, mas está na minha lista de leituras. Já vi muitos comentários positivos sobre O Que Aconteceu com Annie, e agora ao ler a sua resenha estou mais curiosa ainda sobre essa história. Um ponto que chamou muito minha atenção é que o livro nos surpreende na questão de julgarmos um personagem bom, mas depois descobrirmos que ele é mau e vice-versa. Achei legal que ela se utilizou da ideia de Stephen King, mas construiu um enredo novo e original.
Beijos!
Adorei e está na lista!
Quero muito ler O HOMEM DE GIZ e fiquei ainda mais intrigada com O QUE ACONTECEU COM ANNIE. Como sempre falei, nunca li nada do King então para mim, tudo será uma verdadeira surpresa.
Gostei da autora não ter colocado os personagens em seus extremos bom e mau, mas com certas “variações” e segredos que mudam toda essa visão de mocinho e vilão.
Essa é uma característica da autora, esse tom de cinza nos personagens. Gosto bastante!
Oi, Carl!!
Achei bem interessante a história que a C. J. Tudor criou em O que aconteceu com Annie parece que a mistura do paranormal com um thriller policial muito empolgante e estou muito curiosa para saber mais sobre essa história como também como O homem de giz.
Bjs
São dois ótimos livros, leia mesmo!
O cemitério foi o primeiro livro que li do King, e fiquei aterrorizada porque era uma adolescente e me deu um medo real, depois disso fiquei fã e lia tudo o que podia e estava ao meu alcance. A escrita dele sempre me trouxe a sensação de algo maior, que envolve e transforma a forma de ver os amigos e as pessoas, olhando desse ponto de vista e sabendo que O que aconteceu com ANNIE tem essa premissa já fiquei curiosa, especialmente por saber que esse tem diferenças marcantes.
adorei a dica!
As diferenças são muitas, ambos são excelentes livros.
Oi, Carl
Não li nada do King então não tem como comparar os livros de ambos.
Mas li O Homem de Giz e gostei muito desse ar de mistério, o personagens que esconde fatos de sua vidas, depois esses atos vão se encaixando na trama. Pelo jeito nesse segundo livro a autora não decepciona seus leitores.
Quero muito esse livro, torcendo para ganhar.
Beijos
Essa autora está fazendo sucesso no Brasil!! Gostei do livro O Homem de Giz e super indico a leitura!! Agora quero ler esse!!
Eu li O Homem de Giz e amei, estou muito ansiosa por este novo livro da Tudor. Já li muitas resenhas dele, algumas pessoas não gostaram (assim como não gostaram do primeiro livro) mas sei que vou gostar!!
Nossa, o livro parece ter uma atmosfera bem sinistra, adoro livros assim. Gosto também de personagens ambíguos, acho que vou gostar desse livro. Obrigada pela dica literária.
De nada 😉
Olá. Quando “O homem de giz” foi lançado, me chamou bastante atenção devido às referências que faz a “It – A Coisa” do King, mas acabei não comprando o livro e deixei passar. Mas depois que “O que acontecei com Annie” foi lançado e gerou tantos comentários positivos fiquei bastante interessada. Amo essas obras de suspense, ainda mais, quando são bem escritos (o que parece ser pela sua resenha). Estou ansiosa para ler as obras da autora. Beijos.
Ambos são muito bons!