A família de Yan Tiehua, uma jovem de 15 anos, faz parte de uma renomada trupe da Ópera de Pequim. No entanto, quando todos os seus membros são brutalmente assassinados, a adolescente é injustamente acusada desse crime bárbaro! Única sobrevivente do massacre, ela é encarcerada por longos anos em um centro de pesquisa secreto. Mas chegou a hora da verdade. De volta entre os vivos, Yan não se esqueceu de nada. Vestida com o tradicional traje teatral que sua família costumava usar, ela embarca em uma espiral de vingança…

YAN” tem uma arte que utiliza traços finos e altamente detalhados para criar um efeito de realismo impressionante. A composição dos quadros foca tanto na ação quanto no dinamismo dos corpos em movimento, o que se reflete na personagem da Yan. Suas feições são desenhadas com uma precisão que revela força e intensidade, capturando uma ampla gama de expressões com sutileza, desde a concentração até a determinação. O contraste entre as linhas suaves do rosto e as linhas mais fortes utilizadas na roupa e nos cenários cria uma justaposição marcante entre o personagem e o ambiente urbano ao seu redor.

As sequências de ação são extremamente bem coreografadas, com um fluxo natural que guia o olhar do leitor de um quadro ao outro sem esforço. A ação é amplificada pelo uso de ângulos dinâmicos, onde o corpo da personagem é desenhado de diferentes perspectivas, criando uma sensação de profundidade e movimento. Chang Sheng domina o uso do espaço e do ritmo, intercalando close-ups detalhados do rosto e do corpo da personagem com quadros mais abertos que destacam o ambiente ao redor. Isso também reforça o impacto visual dos momentos de ação, dando um peso dramático às cenas.

Os detalhes do corpo da Yan, desde a musculatura até o caimento do traje, são desenhados com atenção minuciosa. Os contornos fortes e as sombras detalhadas nas roupas adicionam um senso de textura realista, enquanto as linhas finas do cabelo e dos olhos trazem um toque delicado ao rosto. As expressões faciais são variadas, transmitindo emoções claras, enquanto o corpo em movimento é fluido e ágil. A interação entre os personagens também se beneficia da anatomia precisa e do uso de close-ups que enfatizam o impacto físico das cenas de combate.

Durante a leitura, eu me lembrei bastante de outro mangá do mesmo gênero, “Gantz”, de Hiroya Oku, que também apresenta uma narrativa com violência extrema, sexualidade, dilemas morais e existenciais. Os cenários urbanos detalhados, o design dos personagens e a forma como as lutas são organizadas são bem parecidos. Além disso, o tom da narrativa, que combina ação contínua com criaturas estranhas, viagens no tempo e outras características fantásticas, também é semelhante.

No entanto, toda a premissa de “YAN” é bem diferente de “Gantz”. Este último focava em batalhas contra criaturas alienígenas extremamente poderosas, com muitas mortes e sangue por todas as páginas. “YAN” se concentra mais em uma trama urbana de vingança, embora este primeiro volume já mostre alguns elementos de viagens no tempo e robôs poderosos à procura de algo ou alguém. E acredito que esses dois pontos podem comprometer a trama como um todo.

Este primeiro volume foca em Yan, seu passado, a morte de sua família, sua prisão e desaparecimento por 30 anos, e seu retorno, com a mesma aparência de adolescente, para continuar sua vingança contra os assassinos da família. Ela usa transmissões ao vivo, feitas pelo celular, para mostrar a execução dos culpados, ou pelo menos é isso que ela faz parecer, compartilhando assim seu caminho de justiça.

Higa Mirai é uma garota de 16 anos que consegue ver 5 minutos no futuro. Ela se une a Yan e ao detetive aposentado que, 30 anos atrás, foi responsável pela investigação do assassinato da família de Yan. Juntos, eles embarcam nessa jornada de redenção e investigação sobre os motivos das mortes, a ligação da prisão com o crime e quem está enviando robôs para eliminar alvos, além de tentar entender a relação com um misterioso homem que parece vir do futuro.

YAN” tem apenas três volumes. Se a história se limitasse à vingança de Yan, acredito que essa quantidade de volumes seria suficiente para uma conclusão satisfatória. No entanto, ao adicionar elementos de viagens no tempo, robôs poderosos e uma organização que parece controlar tudo isso, temo que a trama acabe ficando apressada ou seja concluída de forma incompleta, pulando eventos e detalhes importantes. Sinceramente, espero que isso não aconteça.

Meu receio vem do fato de que gostei muito de “YAN“. Os três personagens, Yan, Higa e o detetive, interagem de forma natural e convincente. As lutas de Yan, assim como a habilidade de Higa de se desviar dos ataques, já que ela consegue ver o que vai acontecer com antecedência, estão muito bem representadas com desenhos claros e quadros extremamente dinâmicos. Algumas sequências são muito bem coreografadas, realmente de tirar o fôlego, especialmente considerando que estamos falando de um quadrinho, onde o movimento é apenas sugerido. Fico imaginando como seria em um filme, o quão espetacular essas cenas poderiam se tornar.

O primeiro volume termina com um gancho promissor, que parece nos mostrar o verdadeiro potencial de Yan em combate. Até agora, sua habilidade é tão grande que nenhum oponente representou um desafio físico real, todos foram fracos demais. Isso pode mudar nos próximos capítulos. Fica a expectativa sobre o que realmente aconteceu no passado de Yan, como Higa vai contribuir para resolver o mistério e até onde seu poder será crucial, além de questionar qual será o papel do detetive nessa jornada.

Estou ansioso para o segundo volume, que promete trazer mais respostas e aprofundar ainda mais a trama. Com previsão de lançamento para novembro deste ano, a curiosidade só aumenta em relação ao que está por vir, tanto nas revelações sobre o passado de Yan quanto nos desafios futuros que ela e seus aliados enfrentarão.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Chang Sheng
ILUSTRAÇÃO: Chang Sheng
TRADUÇÃO: Rud Eric Paixão
EDITORA: Comix Zone
PUBLICAÇÃO: 2024
PÁGINAS: 344
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